As votações encerraram e os leitores do MedVet InFocus estiveram mais interessados em saber sobre a interpretação do hemograma com 73% dos votos. O que não me surpreende pois o hemograma, embora sendo um dos exames iniciais e "básicos" em quase todos os pacientes, continua sendo um exame que exige um nível de conhecimento e experiência por parte de quem está avaliando.
O exame de sangue completo envolve o estudo das células vermelhas (hemograma), células brancas (leucograma) e das plaquetas. Eu prefiro sempre começar a avaliar o exame de sangue pelas células brancas, porque dependendo das alterações notadas no leucograma você já pode antecipar como o hemograma poderá estar. Não vamos falar sobre o leucograma nesse texto.
Um dos primeiros grandes fatores que já fazem com que a maioria dos clínicos não aproveitem tudo o que o hemograma tem parae oferecer é não realizar um esfregaço sanguíneo junto com o hemograma. O exame de sangue completo deveria envolver a análise de dados quantitativos e qualitativos (esfregaço sanguíneo). Para exemplificar a importância do esfregaço sanguíneo, em uma situação de emergência, basta checar o hematócrito, proteínas totais e realizar o esfregaço que você terá informações suficientes para tomar atitudes rápidas enquanto espera pelo resto do hemograma.
Você deve sempre tentar avaliar todos os parâmetros testados no hemograma. Eu particularmente dou muito mais atenção ao hematócrito, hemáceas, proteínas totais e hemoglobina, esses são todos indicadores de massa celular. Os índices (MCV, MCHC, MCH e RDW) também são importantes e podem ajudar a diferenciar as anemias em regenerativa ou não-regenerativa, mas eu não confio muito neles e prefiro me basear no valor dos reticulócitos.
A primeira coisa que eu faço ao ver um hemograma é tentar checar se existe anemia, policitemia ou se está normal. Você só precisa olhar os valores do hematócrito, hemoglobina (Hb) e a contagem de hemáceas. Se você tem valores baixos nesses testes então você está diante de uma anemia. Valores normais podem acabar mudando em poucas horas ou dias então é importante sempre checar o hemograma várias vezes, e valores aumentados indicam um estado de policitemia.
Frente a uma anemia é importante classificá-la em regenerativa ou não- regenerativa. Muita gente usa apenas os índices para chegar a essa conclusão, mas como eu disse, eu prefiro me basear na contagem de reticulócitos e no esfregaço sanguíneo na procura por policromasia. Outro detalhe na contagem de reticulócitos é sempre avaliar seu valor exato. Alguns laboratórios informam apenas a % de reticulócitos. Se isso acontecer basta pegar essa % e multiplicar pelo valor das hemáceas, isso lhe dará um valor absoluto de reticulócitos. Caso você tenha chegado a conclusão de que essa anemia é mesmo regenerativa, existem dois mecanismos principais que causam esse tipo de anemia: 1 - hemorragia e 2 - hemólise, e muitas vezes o exame físico pode ajudar a eliminar uma ou outra causa. Outro macete é olhar o valor dos reticulócitos, valores muito altos tendem a acontecer em anemias hemolíticas e o motivo disso é porque quando as células vermelhas se rompem, elas acabam liberando ferro na circulação, e esse ferro é utilizado pela medula óssea para eritropoese. Novamente a avaliação do esfregaço sanguíneo é fundamental nos casos de anemias hemolíticas na busca de heinz bodies, esferócitos, micoplasma, protozoários e e fragmentação de hemáceas.
Mas e se a anemia é não-regenerativa? Nesse caso você deve perguntar a sí mesmo se existe como determinar a origem sem ter que olhar na medula óssea. A maioria dos casos de anemia não-regenerativas são causadas por inflamações crônicas e esse é um dos motivos do porque eu gosto de ver o leucograma antes.
E por fim, para não termos um texto muito comprido, se não há anemia mas sim policitemia você precisa determinar se essa policitemia é absoluta ou relativa, 90 a 95% dos casos de policitemia são relativas, ou seja, causadas pela hemoconcentração.
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