A maioria dos leitores votaram em saber mais sobre a avaliação do leucograma. Eu gostaria de começar dizendo que eu prefiro sempre interpretar os valores das células brancas usando os números absolutos ao invés das percentagens. Muito raramente eu analiso as percentagens, a não ser que eu não tenha o valor absoluto para aquela determinada célula. Neste caso basta você multiplicar a percentagem pelo valor de leucócitos totais para obter o valor absoluto da célula que você pretende analisar.
Outro mito gerado na interpretação do leucograma é tentar tirar conclusões sobre causas e ideologias, infecção vs inflamação vs bactéria vs vírus. Existem diversas situações onde os resultados podem induzir o clínico ao erro caso este esteja a procura de uma resposta que vá além de saber quem está ganhando a "guerra da inflamação" - tecido inflamado ou medula óssea, e isso é umas das principais funções do leucograma.
Existem 6 questões básicas que eu tento obter respostas em todos os leucogramas. A primeira pergunta é se existe alguma evidência de INFLAMAÇÃO. E a resposta vai depender de como está o comportamento dos neutrófilos e se existe desvio à esquerda (presença de neutrófilos imaturos na circulação). Outra célula que participa na inflamação é o eosinófilo, mas é importante ter certeza que que a eosinofilia é persistente (repetir exame em alguns dias) na ausência de neutrofilia com desvio à esquerda, e o motivo disso é porque a concentração de eosinófilos tende a subir e descer no sangue, então uma simples elevação ( a não ser que seja muito alta) pode ser normal. Os monócitos também são células que aumentam na inflamação.
A segunda pergunta é - existe evidência de estresse? Geralmente a condição de estresse causa leve linfopenia (750 -1.500), além da linfopenia podemos ter eosinopenia, neutrofilia sem desvio à esquerda e leve monocitose. Mas linfopenia é a característica mais importante para se determinar a presença de estresse.
A terceira pergunta é - existe evidência de necrose tecidual? Monocitose indica que existe uma demanda por fagócitos que ocorre nas condições de necrose. A monocitose pode ocorrer em 48 horas, então nem sempre é um indicador de cronicidade.
A quarta pergunta é - existe evidência de Hipersensibilidade Sistêmica? Eosinofilia persistente é o indicador de hipersensibilidade. Geralmente ocorre em doenças parasitárias e alérgicas.
A quinta pergunta é - se existe inflamação, podemos classificá-la em aguda ou crônica? Essa é uma pergunta muito importante e que gera muitas dúvidas entre os clínicos. A inflamação aguda é caracterizada pela presença de neutrofilia com desvio a esquerda. Outro indicador que podemos usar é a linfopenia pois está presente no estresse, e condições agudas costumam gerar muito estresse que ainda não foi balanceado com uma resposta antigênica. Já quando temos uma inflamação crônica, devemos tentar identificar se é do tipo 1 ou do tipo 2, isso é importante para se ter uma noção em quão difusa está esta inflamação. Inflamações do tipo 1 são mais severas mas localizadas como abcessos, piometra, pancreatites, etc. Inflamações do tipo 2 são mais difusas como hepatites, pneumonias, peritonites, etc.
E por último, devemos nos perguntar se existe evidência de Toxemia - e para isso precisamos olhar o esfregaço sanguíneo. Os indícios são geralmente citoplasma basofílico dos neutrófilos e presença de dolly bodies.
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