Prezados leitores, o assunto mais votado foi Manejo Emergencial das Intoxicações. Primeiramente eu gostaria de comentar sobre como devemos lidar com a exposição à substâncias nocivas externas. Os casos mais comuns costumam acometer os olhos e a pele.
Na irritação ocular, os olhos do paciente devem ser enxaguados com água ou solução salina por pelo menos 20-30 minutos. Após esse procedimento, geralmente utilizamos lubricantes oleosos e examinamos para possíveis danos à córnea. Como monitoramento, é importante verificar periodicamente por alterações como hiperemia, blefaroespasmo, lacrimejamento e dor. Na exposição da pele, o paciente deve ser lavado e o produto mais comumente utilizado é o sabão de louça comum. Banhos devem ser repetidos para remover completamente o agente tóxico. É importante enxaguar bem o paciente com água morna para retirar todo o sabão. Para secar, pode-se utilizar toalhas aquecidas para manter uma temperatura constante e evitar hipotermia.
Mas o grande perigo está na ingestão de substâncias tóxicas. Existem diversos procedimentos para lidar com essa emergência. É importante lembrar que provocar emese não é sempre recomendável, especialmente quando se trata de substâncias corrosivas. Em casos onde existe a suspeita de ingestão de substâncias corrosivas, o ideal é tentar diluir o agente, e isso pode ser feito através da administração de água ou leite em combinação com demulecentes na dose de 1-3mg/kg.
Nos casos onde a emese é indicada, ela é mais eficaz quando realizada dentro de 2-3 horas após ingestão da substância tóxica. A emese geralmente esvazia 40-60% do conteúdo estomacal e assumimos que é mais eficaz do que a lavagem gástrica. Outro detalhe sobre induzir emese é que essa não deve ser provocada em roedores, coelhos, pássaros, cavalos e ruminantes. Deve-se evitar induzir emese quando se trata de agentes como bases, ácidos, corrosivos e hidrocarbonos. Condições pré-existentes também limitam a prática deste procedimento (animais com epilepsia, doenças cardiovasculares, debilitados ou que acabaram de passar por procedimentos cirúrgicos abdominais). Algumas substâncias tóxicas possuem efeitos anti-emético (fenotiazínicos, antihistaminicos, barbitúricos, narcóticos, antidepressivos e marijuana), nesses casos, induzir a emese pode ser dificultada.
Outro procedimento utilizado em caso de ingestão de agentes tóxicos é a administração de carvão ativado (de uso hospitalar). O carvão ativado ajuda a adsorver agentes químicos ou tóxicos, facilitando a excreção do mesmo via fezes. É geralmente utilizado quando o paciente ingere venenos orgânicos, químicos ou toxinas bacterianas. A dose recomendada para todas as espécies é 1-3 gms/kg. Pode ser repetida cada 4-8 horas na metade da dose. Esse tipo de procedimento não deve, no entanto, ser realizado caso haja suspeita de ingestão de materiais cáustico. Esse tipo de material não é absorvido e com isso o carvão ativado pode acabar mascarando severas lesões por queimaduras na boca e no esôfago. Existem outros agentes químicos que não costumam ser adsorvido eficazmente pelo carvão ativado (Etanol, metanol, fertilizantes, flúor, destilados de petróleo, metais pesados, iodo, nitratos, nitrito, cloreto de sódio e cloratos. Para aumentar a eficácia da eliminação do carvão ativado, pode-se usar catártico. Catárticos aceleram a eliminação do carvão ativado evitando que ocorra uma re-absorção do agente adsorvido pelo carvão. Porém, catárticos não devem ser usados em animais que apresentam diarréia ou que estejam desidratados.
Enemas também podem fazer parte dos procedimentos de emergência. Esse procedimento é útil na eliminação de toxinas provenientes do trato gastrointestinal. Carvão ativado pode ser utilizado como enema. O uso de soluções de enema pré-misturadas para uso humano é contraindicado para animais por causar distúrbios de desbalanceamento eletrolítico. Técnicas gerais de enema envolvem o emprego de água morna é sabão.
Lavagem gástrica não deve ser empregada em casos onde se suspeita de ingestão de destilados de petróleo. Essa técnica requer emprego de anestesia geral.
Lavagem enterogástrica pode ser necessária quando existiu uma exposição à agentes letais como estricnina, metaldeídos, antidepressivos ou fluoracil.
Aproveitando o tópico, gostaria de responder a pergunta de um colega de Navegantes-SC. O que vocês costumam na emergência para induzir vômito?
Existem vários agentes que podem ser utilizados, porém os mais comuns são o peróxido de hidrogênio (água oxigenada) 3%. A dose recomendada é 1 colher de chá (5ml)/2.5kg, e não se deve dar mais que 3 colheres de sopa (45ml). A água oxigenada causa vômito através de uma irritação gástrica leve. O Vômito geralmente ocorre dentro de minutos.
Em ambiente hospitalar, a apomorfina é amplamente utilizada (cuidado com uso em gatos). Geralmente é administrada topicamente na conjuntiva. Raramente ocorre feitos adversos, mas se isso acontecer, esses efeitos podem ser revertidos com naloxone.
Dúvidas sobre esse tópico, escreva um e-mail ou poste o seu comentário aqui.
mto esclarecedor.parabens...vou seguir sempre os casos. bj
ResponderExcluirOlá, meu nome é Priscilla e eu escrevo do RJ. Em 2 dias perdi 3 dos 4 gatos que tinha em casa, todos aparentemente pela mesma razão, envevenamento por chumbinho. O 1º estava completamente imóvel quando o encontrei, apenas respirando e tentando susurrar algum miado. Seu globo ocular nao se movia, ainda que eu mexesse. O 2º horas após chegou em casa com sintomas aparentando convulsão, como se algo estivesse corroendo por dentro de seu estômago eliminando pela boca uma espuma estranha e excrementos liquidos pelas fezes. O 3º não lutou tanto quanto o 2º, mas os sintomas foram os mesmos. Me informei em outro site sobre os procedimentos emergenciais nesses casos e apliquei a água oxigenada. Não funcionou, pois meu gato morreu minutos depois.
ResponderExcluirMinha Pergunta se dá em função do tempo em que é detectado o sintoma. Assim que detectado podemos aplicar os medicamentos combatentes ao envenenamento? Há algum sinal que podemos identificar na reação do animal como uma reação positiva à medicação?
Percebi que o efeito de venenos do tipo são relativamente rápidos, impossibilitando até chegar ao veterinário em tempo.
Agradeço desde já toda informação do blog, sem dúvida é uma ótima fonte de conhecimento.
Um abraço,
Priscilla - RJ
Olá Priscilla, sinto muito pelos seus gatos. Infelizente o tempo está sempre correndo contra uma situação de envenenamento, todas as medidas caseiras são na verdade paliativas e devem ser feitas rapidamente antes de se levar ao veterinário, porém todos os animais devem ser levados ao veterinário o mais rápido possível, então respondendo a sua pergunta, não se espera nenhuma reação positiva antes de ir ao veterinário, e pelo que percebí seus gatos possuem acesso à rua e isso é um agravante pois eles são expostos à esses venenos e quando voltan para casa ja se passou horas após a ingestão, isso diminui ainda mais as changes de recuperação.
ResponderExcluirEspero ter ajudado,
Abraços
Luiz Bolfer
Obrigada Luiz, Abraço.
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirGostaria de saber como comprar apomorfina injetável no Brasil ?
Sou medica veterinária e gostaria de ter esta droga junto dos medicamentos de uso na conduta de emergência.
Obrigada
Carolina
Olá Carolina, eu não sei te dizer pois eu não pratico no Brasil então não sei se precisa de alguma documentação especial da sua parte para comprar essa droga. Mas o que eu queria dizer é que, se o seu interesse é usar para causar emese em emergências, nós geralmente pegamos uma porção do comprimido e esmagamos até formar um pó. Esse pó é usado diretamente na conjuntiva ou bem pouco diluído em solução salina, dessa maneira vc pode lavar bem a conjuntiva e retirar o resto do medicamento quando o vômito foi satisfatório para o que vc pretendia. Eu acredito que essa é a maneira idealde controlar os sinais adversos que a apomorfina pode causar. Lembre que esses outros sinais tbm podem ser revertido com uso de Naloxone (só o vômito que não)por isso é bom sempre ser conservador.
ResponderExcluirEspero ter ajudado.
Abraços
Luiz
Obrigada Luiz.
ResponderExcluirMeu problema é exatamente este... só encontro aqui os comprimidos sublinguais...
Ajudou bastante.
Obrigada
Carolina
Disponha Carolina, com os comprimidos vc está bem, nós atépreferimos pelos motivos que eu escreví acima, mas um colega meu disse que existe ampolas de apomorfina no Brasilmas não soube me dizer o laboratório, se vc fizer uma pesquina na internet pode ser que encontre.. Qualquer coisa escreva.
ResponderExcluirAbraços
Luiz