quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Anestesia do paciente com Doença Cardíaca.

Prezados leitores do MedVet InFocus. Gostaria de agradecer todos àqueles que deixaram aqui seu voto para nosso próximo assunto. Vou escrever um pouco sobre o que eu acho importante avaliar antes de proceder com procedimentos que envolvem a anestesia de um paciente portador de doença cardíaca.

Em geral, esses pacientes possuem uma predisposição maior para certos tipos de arritmias, incapacidade de administrar excessos de fluidos endovenoso e são intolerantes à frequência cardíacas extremas. Eles geralmente já possuem os mecanismos fisiológicos compensatórios ativados, o que limita sua habilidade de se "ajustar" aos diversos efeitos dos agentes anestésicos. O objetivo principal, quando anestesiamos um paciente com doença cardíaca, é única e exclusivamente tentar evitar qualquer novo dano ao sistema cardiovascular e subsequente impacto aos demais órgãos e sistemas.

Eu acredito que um dos pontos mais críticos é a avaliação pré-anestésica desse paciente. O quanto mais você sabe sobre as condições desse paciente, melhor. Uma avaliação completa do sistema cardiovascular deve ser realizada e se possível incluir radiografia torácica para estimar o tamanho do coração e o grau de envolvimento do parênquima pulmonar (congestão, edema pulmonar). ECG é de grande importância para avaliação de possíveis arritmias (especialmente em Dobermans, Boxers e Schnauzers). Ecocardiografia deve ser realizada nos casos onde existe a suspeita de insuficiência miocardica.

Após essa coleta de dados e resultados de exames, pacientes com doença cardíaca devem ser categorizados. O The International Small Animal Cardiac Health Council divide os pacientes com doença cardíaca em 3 classes. Classe I - Pacientes com doença cardíaca sem sinais clínicos, esses pacientes são considerados ASA II, se não fazem uso de medicamentos, ou ASA III se requerem medicamentos. Classe II - são pacientes com sinais clínicos leves a moderados, são considerados ASA IV. E Classe III - pacientes com doença fulminante que requerem medidas agressivas para estabilizar a doença, são considerados ASA V.

Existem alguns protocolos anestésicos que devem ser evitados para esses tipos de pacientes. Acepromazina por exemplo pode causar vasodilatação por um período de tempo muito longo e não existe um antagonista para seus efeitos. É importante usar doses pequenas se necessário. Alpha-2-agonistas devem ser evitados por causarem hipertensão e bradicardia. Existem no entanto algumas considerações sobre o uso da medetomidina. Agentes anticolinérgicos podem causar taquicardias, e opióides Mu agonistas podem causar bradicardias significativas. Agentes como a Ketamina e Tiletamina devem ser usados com muita cautela devido ao aumento do tônus simpáticos que esses fármacos produzem.

Com relação aos agentes de indução, usar máscara com anestésico inalatório pode causar um estresse muito alto. Tiopental pode ser usado em pacientes Classe I, porém possui ação arritmogênica, o mesmo se aplica ao Propofol, seguro para Classe I, porém pode causar depressão respiratória e cardíaca.

O recomendável é utilizar medicação pré-anestésica, normalmente benzodiazepínicos; diazepam ou midazolam junto com um analgésico opióide. Etomidato é atrativo para uso em pacientes Classe II ou III por ter um menor impacto na contratilidade cardíaca.

Para não me estender muito em um único tópico irei comentar em um novo tópico sobre os efeitos que as medicações que usamos para tratar esses paciente podem ter durante anestesia. Como devemos monitorar a anestesia e considerações sobre o pós-anestésico.

Continuem visitando o MedVet InFocus para esses novos tópicos. Mesmo assim estou a disposição para dúvidas e comentários sobre o tema.